terça-feira, 14 de julho de 2015

Slender Man em Campinas

Eu deveria ter uns 11 ou 12 anos, quando meu avô me contava histórias que não tinham explicação. Várias histórias, de arrepiar os cabelos mesmo. E o que eu achava mais interessante, era que ele nunca contava as histórias de seus amigos, apenas fatos ocorridos com ele mesmo, e grande parte delas, minha avó (que odiava mentiras) confirmava todas que esteve presente. 



Meu avô me dizia que "duas coisas acabaram com esses 'causos': uma é a eletricidade, outra é a falta de crença". A eletricidade que ele se referia é a televisão, a falta de tempo para coisas que sempre estiveram à nossa volta, mas por comodismo e falta de atenção, deixamos de perceber. A falta de crença, ele dizia, que certas coisas são apenas vistas por quem acredita ou por quem realmente quer ver. 

A quase 20 anos meu avô partiu, e o mais engraçado é que, algum tempo atrás, após ver alguns relatos na Internet, que me lembrei, com um certo choque na verdade, de uma história que ele me contou. É complicado você imaginar que já ouviu algo assim a tanto tempo e com alguém tão próximo. 

Na década de 50, meu avô trabalhava de vigia noturno em uma fábrica de tecidos, aqui na cidade de Campinas. Saia à noite de sua casa, e voltava apenas pela manhã, às vezes o Sol não havia nascido. E em uma dessas madrugadas, retornando pra casa, que ele viu, em suas palavras, "uma coisa que me deixou chocado". 

Vou tentar escrever da maneira que meu avô me contou. Voltando pra casa, próximo a um dos pontos do bonde (que ainda não tinha dado o horário pra funcionar), meu avô avistou um homem vestido de preto. Até aí, normal, mas o homem era alto demais, e na inocência de meu avô, achou que fosse um jogador de basquete. 

Meu avô disse que passou pelos trilhos do bonde, e o homem alto estava uns 50 metros à sua frente. Bem em frente ao que se tornaria a futura Câmara dos Vereadores de Campinas, que na época era um outro estabelecimento, meu avô viu o homem alto "pular" o muro sem pôr as mãos. Até aqui, tranquilo, mas o detalhe é que o muro tinha cerca de 9 metros de altura (até hoje tem). 

Meu avô me dizia, sempre com uma cara de medo, que o maior choque nem foi ver o homem de preto pular o muro... mas foi quando o homem olhou pra ele: meu avô disse, com um certo medo nos olhos, que o homem era bem branco... e não tinha face. Como comparação, meu avô o comparou a um homem de cera. Meu avô me disse que correu para um portão próximo, na virada da esquina, e viu o homem se misturar em meio às árvores no fundo do estabelecimento, e sumiu. Nesse momento da história, minha avó interviu: disse que meu avô chegou pálido e quase desmaiando de medo. E meus avós disseram que alguns dias depois de ver o tal homem, uma criança da vizinhança sumiu. 

O pessoal do bairro não tinha ideia de onde a criança foi parar, mas meu avô me disse, com certeza, que o tal homem que levou a criança. Eu acredito que meu avô viu, em primeira mão, o Slender Man. Não sei de onde ele tirou a ideia de que a aparição do Slender Man e o sumiço da criança tinham ligação, porque vamos convir, na época que a história ocorreu com ele, ou quando ele me contou, ninguém conhecia o Slender Man. 

E meu avô sempre terminava suas histórias, inclusive essa, me dizendo: "Não há necessidade de provocar o que está quieto. E evite buscar e entender o que não tem explicação, e tente não querer ver certas coisas". 
Porque eu acredito que, quanto mais você quer saber sobre essas lendas, mais elas te ouvem.




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