quinta-feira, 16 de julho de 2015
Ontem eu vi um cara
Ontem eu vi um cara.
Não era belo, não era feio, era apenas um cara.
Seu rosto era composto de uma barba rala, mal feita; uma ou duas noites mal dormidas que causaram um roxo profundo de olheiras mas, o que realmente me chamou atenção naquele cara era a ausência da própria sombra ao passar pela luz.
Era noite, um poste após outro ele ia passando, e a sombra ligada a seus pés não se formava, não andava junto.
Seu olhar era marcante. Um olhar distante, longo, perdido.
Esse homem andou até a mais alta ponte seca da cidade.
Subiu no parapeito e olhou para baixo.
Seu cabelo desgrenhado voava ao vento enquanto ele analisava a queda.
Então o homem, que já tinha decidido o que estava para fazer, colocou os pés mais para frente, alinhados com o final da ponte.
E com aqueles olhos azuis e a face cansada ele me viu.
E com o susto que teve, se desequilibrou e seu corpo foi jogado pra trás, fazendo-o cair com as costas no asfalto.
Foi então que uma luz muito forte o iluminou.
Uma luz forte, que mesmo parecendo poder cegá-lo, ainda assim não produziu sombra alguma.
Então minha missão foi cumprida. Seu crânio foi achatado pelas rodas do caminhão.
Prazer, eu sou a morte!
E quando até mesmo a sombra é capaz de te abandonar, é sinal de que eu estou espreitando... E de uma maneira ou de outra, eu vou te levar...
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