segunda-feira, 13 de julho de 2015

Deus


 Você está deitado numa cama de hospital, à beira da morte, seu câncer de pulmão já em estado terminal. Hoje é seu último dia de vida. Sem chances de recuperação. Todos os aparelhos serão desligados e você descansará em paz.
     Sua família veio se despedir de você. Sua esposa, seu casal de filhos, seus netos. Eles te trouxeram flores. Eles realmente te amam muito.

    Algumas horas depois, a visita foi encerrada e os aparelhos serão desligados em breve. Você se lembra de todos os momentos de felicidade de sua vida: amor, viagens, família. No entanto, você era alguém muito rico e ambicioso, e fazia de tudo para enriquecer ainda mais. Mas sempre tentou corrigir isso indo à igreja, rezando com frequência, enfim, sendo temente a deus. Você teve uma vida luxuosa, mas, como acontece com todos, sua hora chegou.
    Então, sua respiração vai cessando. A vida some de seu corpo. Os médicos vão desligando os aparelhos. Então, tudo escurece. Você já morreu.
    Mas, de repente, você se sente como se estivesse de pé. Sim, você está de pé. Tudo está escuro. Você não enxerga nada, mas pode andar, então segue em frente. Você não sabe onde está, afinal, está morto.
    Você caminha por dias nesta vastidão infinita. sente uma enorme dor nos pés. E, no quinto dia, você vê uma porta ao longe. Sim! uma porta! você corre até ela, pois ela deve ser o que procurava. Afinal, você não caminhou por cinco dias à toa, certo? Antes de entrar, você vê algo escrito na porta, por arranhões: D-E-U-S. Deus!
  Você fica empolgado. Finalmente, após uma vida de devoção e fé você conhecerá o criador! você encosta a mão na maçaneta e abre a porta suavemente...
   ...E fica parado ali, em estado de choque.
    No centro da sala estava um grande ser. Cerca de 50 metros de altura. Ele não tinha olhos, apenas uma enorme boca no centro do rosto. Essa coisa é deus.
    Ele sente sua presença. Ele vira o rosto para você e vai na sua direção. Você fica chocado ao constatar que ele era quadrúpede. Pouco a pouco ele se aproxima de você. Agora, ele está à sua frente. Ele não tem olhos, mas parece te julgar, enquanto você treme de medo com sua presença. Após alguns segundos, que parecem uma eternidade, ele aproxima sua grande e monstruosa boca de você, e diz algo em seu ouvido: Ego sum justitiam (eu sou a justiça, em latim). E, antes de completar a frase, ele toca com uma pata em sua cabeça.
    Você revive em sua mente todos os momentos de maldade em sua vida: roubo, traição, deslealdade, gula... todos os pecados que você cometeu, mas nunca se arrependeu. E toda uma vida de falsa devoção não seria o bastante para apagar seus pecados.
    Então você volta ao normal. Deus ainda está à sua frente. Você fica com medo do que ele possa fazer com você. Então, ele aproxima a bocarra de seu ouvido, e diz bem baixo: et justitiam, cæcus est (e a justiça é cega, em latim).
   Então, um grande buraco negro abre ao seu redor, e você cai na escuridão infinita. Então você percebe que o deus em que acreditava, bom, justo, amoroso, bem... esse não é o verdadeiro deus. Então você chora, e dá um último grito, mas ninguém pode mais te ouvir...

  

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