segunda-feira, 13 de julho de 2015

A história de Katrin Malen, a menina do corredor

Indonésia, Santém, 1946

Enila, Ceron e Katrin, formavam uma família feliz, moravam em um humilde sítio, que com o avanço da cidade estava ficando cada vez menor e a situação financeira deles ficava cada vez pior. 

Katrin gostava muito de seus pais, era uma menina encantadora de apenas 11 anos. Brincava sempre sozinha com os poucos animais da fazenda. 


Enila era uma mulher muito justa e batalhadora, sempre conseguiu manter o equilíbrio na casa, mesmo passando por tantas dificuldades. 

Depois de alguns meses a situação começou a se complicar, era época de seca, as plantações estavam morrendo e a única solução encontrada por Ceron foi vender um de seus cavalos. 

Era uma tarde nublada Ceron amarrou o animal numa carroça, consigo levou algumas armas e pólvora para tentar vender no mercado da cidade. 

Katrin pede para que ele traga uma boneca que ela tanta desejava, pois seu aniversário estava muito próximo. Muito triste e com pena de sua filha ele diz que irá tentar realizar o sonho da menina. 
Várias horas se passaram, começou a trovejar, Ceron retornava para sua casa. Conseguiu vender apenas o cavalo, não achou comprador para o restante do material que levava. 

Katrin avista seu pai, vindo pela estrada, muito contente e aguardando ansiosa por seu presente, corre e avisa sua mãe. 

As duas aguardam na porta da residência, quando um forte raio cai pelas redondezas, o som do trovão foi tão forte que fez com que o cavalo se assustasse. Ceron perdeu controle das rédias, em pânico o animal tenta fugir, mas continuava preso à carroça. 

Katrin e sua mãe tentaram correr para ajudar, mas a carroça vira, uma pequena faísca é produzida, acidentalmente a pólvora se espalha, causando assim uma enorme explosão. 

Ceron gritava muito, seus pedidos de ajuda podiam ser ouvidos à distância. Mãe e filha nada puderam fazer a não ser assistir a morte dele. 

Alguns objetos que estavam na carroça foram arremessados com a explosão, dentre eles estava a boneca que Katrin tanto desejava. Intacta, a menina encontra e abraçada ao seu novo brinquedo fica paralisada e parecia não acreditar que havia perdido seu tão amado pai.

As chamas arderam por mais de uma hora e se alastraram pelo capim seco, muitas pessoas tentaram ajudar. Nada se salvou a não ser a casa onde elas moravam. 

Depois de algum tempo, Enila recebeu uma proposta de venda daquele local onde queriam construir um grande hospital. Sem pensar muito aceitou. 

Compraram uma casa no centro de Santem e com o restante do dinheiro poderiam viver sossegadas, já que aquele local era muito valioso. 

Após a morte de seu pai Katrin passou a ser uma menina triste e ainda mais solitária, pois pouco falava e nunca mais se separou do ultimo presente que recebeu dele. 

Apenas um cachorro foi levado para a casa nova. A mudança foi difícil para as duas, Katrin sofreu aos prantos entrou em sua nova moradia. 

Desde então seus trajes passaram a ser pretos, se fechou para o mundo. Renegou toda a ajuda que lhe foi oferecida. 

Enila preocupava-se e seu único consolo era pensar que tudo aquilo não passava de uma difícil fase. 

Um ano depois... 
Katrin, nunca saia de casa, isto fez com que sua pele ficasse extremamente clara e pálida. 

Todas as noites, Enila escutava Katrin conversar com alguém e ao espiar constatava que ela tinha a boneca como melhor amiga. 

Numa noite, algo de estranho aconteceu, Katrin chorava muito e chamava por seu pai. Pensando em se tratar apenas de mais um sonho, Enila corre para ver o que estava acontecendo. Assustou-se ao encontrar a boneca suja de sangue, Katrin continuava a gritar, sua mãe a acalma e depois a questiona sobre a boneca, sem obter nenhuma resposta recolhe o brinquedo de sua filha e vai para fora tentar limpar. 

Quando abriu a porta dos fundos, encontrou o cachorro morto, seu peito perfurado e com um vazio no local do coração. 

Enila ficou apavorada com a cena, num primeiro momento pensou ter sido obra de algum assaltante ou pessoa mal intencionada. 

Katrin acalma-se e vai dormir. 

Devido ao susto, Enila nem se importa com a boneca suja, limpa e devolve para sua filha. 

A notícia se espalhou e todos pensavam ser algum maníaco rondando a vizinhança. 

Desde este dia a vida das duas tornou-se atormentadora, noite após noite, acontecimentos estranhos começaram a ocorrer na humilde casa. 

Armários abriam misteriosamente, objetos desapareciam e sons estranhos deixavam o ambiente aterrorizante. 

Enila não sabia mais o que fazer, sua única saída foi pedir para que sua irmã e sobrinha viessem ficar por um tempo na casa delas, pois com mais pessoas elas ficariam seguras. 

Por dois meses a situação ficou calma. 

O ano já era início do ano de 1947, o novo hospital da cidade iria inaugurar, muita expectativa rondava aquele povo, pois grande tecnologia foi utilizada naquele local. 

Katrin continuava sendo a mesma menina calada e séria de sempre, nunca havia falado mais do que duas palavras com sua prima Malina, que tinha a mesma idade. 


Malina sempre quis brincar com a boneca de Katrin, mas sempre foi rejeitada por ela. 

Num domingo, todas vão dormir logo cedo. No meio da noite Enila sente um cheiro de fumaça, se levanta e depara-se com sua cozinha em chamas. Todos os vizinhos acordam e correm para ajudá-la. 

Próximo a porta de saída encontram a boneca de Katrin, levemente queimada, mas sem grandes estragos. Enila estranha e decide jogar o brinquedo fora. 

Após passar o susto, todos voltam a dormir. 

No dia seguinte, Enila encontra Katrin dormindo com a boneca que ela tinha jogado fora. 

Enila cala-se e começa a desconfiar de sua filha, pois ela era perturbada e misteriosa. 

Em um dia que Katrin estava em outro cômodo da casa, Malina pega a boneca de sua prima e começa a brincar. Katrin retorna e encontra sua prima com a boneca. Revoltada, pela primeira diz uma única frase. "- Você irá se arrepender por isso!" 

Malina solta o brinquedo e vai de encontro à sua mãe. 

Naquela noite daquele mesmo dia, novos acontecimentos estranhos tiveram início desta vez quem gritava muito era Malina que dormia no mesmo quarto que Katrin. 

Enila e sua irmã correm para ver o que estava acontecendo. O choque foi grande ao ver Malina morta e também com um buraco em seu peito. O olhar de Katrin era intenso, ficou parada em pé com a boneca em sua mão direita olhando para o corpo da menina. Suas mãos estavam sujas de sangue assim como a boneca. 

Enila não conseguia acreditar que sua filha havia matado sua própria prima. Espanca a menina, que não teve nenhuma reação. 

Katrin permaneceu dois meses acorrentada na cama, até que o novo hospital fosse aberto ao público. 

A mãe de Malina foi embora e nunca mais deu qualquer notícia. 

Enila chorava muito, mas internar Katrin era a única solução. A boneca foi mais uma vez retirada das mãos da menina. 

Já internada no hospital, Katrin recusava-se a usar as roupas dos internos e continuava com seus trajes pretos. 

Mais um mês se passou. Katrin estava piorando a cada dia, queria de qualquer forma sua boneca de volta. Os médicos acharam melhor que ela tivesse seu desejo realizado. 

Enila assim o fez, no dia da visita quis entregar pessoalmente e ficar a sós com ela. 

Depois de uma hora, os médicos acharam estranho o silêncio e a demora, abriram a porta da sala: Katrin havia matado sua própria mãe e com as próprias unhas arrancou seu coração e comia como se fosse um saboroso doce. 

Os médicos ficaram abismados com o que viram. Katrin foi novamente amarrada e sedada. 

A notícia se espalhou, todos na cidade temiam a menina e principalmente sua boneca, pois muitos acreditavam ser um objeto amaldiçoado. 

Mais dois meses se passou, a aparência de Katrin era horrível, com muitas olheiras, cabelos negros e compridos. 

Os médicos e enfermeiras a temiam, eram poucos os que chegavam perto dela. 

Toda a equipe achou por bem retirar novamente a boneca de suas mãos. Neste dia a situação se complicou. Katrin dava gritos, e negava-se a entregar seu brinquedo. 

Mesmo lutando, a boneca foi levada para o incinerador. No exato momento em que foi jogada no fogo o prédio do hospital também começa a arder em chamas. 

Em segundos o fogo se alastrou, a ala das crianças foi atingida, ninguém conseguiu fazer nada. Centenas de pessoas morreram naquele dia. 

Katrin também foi carbonizada, poucos se salvaram. 

Mesmo com a grande tragédia, muitos se alegraram ao saber que Katrin havia morrido, pois assim davam por encerrada as ações macabras daquela menina. 

Indonésia, 1948

Após uma intensa reforma, o hospital infantil de Santem, iria ser reaberto. Passou por um forte incêndio no ano anterior, cujas causas até hoje são desconhecidas. 
Kur Hants um conceituado fotógrafo alemão, entrou sozinho no prédio para registrar as mudanças do local e fazer uma matéria sobre a renovação do prédio após a tragédia. 

Caminhou por vários andares, mas ao chegar ao último sentiu algo estranho, estava frio e sentia como se algo o observasse, mesmo com maus pressentimentos continuou seu trabalho. 

Ao focar sua câmera para uma das portas que davam acesso à ala psiquiátrica, notou uma mancha na lente da câmera, ao limpá-la percebeu que não havia nada ali. 

Ele movimentava seu equipamento, e a sombra parecia imóvel. Kur nunca havia passado por isso, pensou se tratar de alguma brincadeira, continuou a fotografar. Quando estranhos barulhos, que se assemelhavam de uma menina se debatendo contra a porta, começaram a ficar intensos, Kur correu pensando ser alguém em apuros. 

Kur abriu a porta, algo violentamente atravessou seu peito, perfurando seu coração. A câmera caiu e por muita sorte não se danificou.

Um amigo de Kur, estranha a demora de seu amigo, ao procurar por todos os andares do hospital, encontra sua câmera caída e logo em seguida seu corpo, com uma grande perfuração no peito. 
As fotos de Kur são reveladas, mas o temor foi enorme ao constatarem a presença de uma menina vestida de preto na foto. Muitos estudiosos se interessaram pelo assunto e acabaram loucos e internados em clínicas e hospitais onde juram ver a mesma menina da foto. 

Os moradores de Santem, afirmam que o espírito de Katrin ainda vive. A ala onde ela foi internada acabou sendo desativada. 

A lenda de Katrin espalhou-se pelo mundo, sua foto foi julgada como montagem e a verdadeira história desapareceu com o passar dos anos. 

O único mistério não revelado e nunca descoberto, foi o poder que sua boneca exercia, mas ela nunca passou de um simples brinquedo. Katrin era má e a morte de seu pai fez com que nela brotasse poderes psíquicos que eram capazes de alterar o curso natural da vida. 

Seu espírito permanece imortalizado em sua única foto, Katrin ainda vive na mente das pessoas que a observam por muito tempo.


Estina, Indonésia, 1975

Faila, uma das jornalistas envolvidas na investigação de 1949, tomou conhecimento de que a câmera ainda estava intacta e estava com o irmão de Kur Hants, Telman, e foi a procura do irmão de Kur em busca de algo que pudesse quebrar de uma vez por todas as lendas que rondavam a morte de Katrin Malen.

A câmera de Kur estava embalada e muito bem protegida por um saco plástico ainda recoberto de pó mesmo após a limpeza realizada.

O que mais interessava Faila era o filme que permaneceu intacto por todos estes anos, mesmo sabendo do risco de estar estragado e nunca mais o mistério da morte de Kur ser revelado.

Faila decidiu revelar as fotos pessoalmente levá-las para análise em sua casa e assim o fez, preferiu nem observar as imagens, logo que ficaram prontas foram guardadas em uma pasta.

No caminho para casa Faila sentia fortes dores de cabeça, como nunca havia sentido antes, era algo que a incomodava demais e parecia que seu organismo estava cansado, como se tivesse praticado longas horas de exercícios físicos.

O relógio marcava 11 da noite, Faila finalmente analisaria as fotos tão misteriosas que há anos foram julgadas como lenda, muitos diziam que elas teriam sido reveladas e que uma estranha presença poderia ser vista nas imagens. 

Tudo que era dito não passava de mentiras criadas por contadores de história. Nem a morte de Kur havia sido esclarecida.

Faila sentou em seu escritório, onde as pinturas de Kur repousavam inclusive a tenebrosa imagem da boneca, sua última pintura e uma caixa com uma boneca que veio junto com os quadros.

Algo ainda a incomodava, estava livre da dor de cabeça, mas o sentimento de cansaço permanecia.

Uma a uma as fotos foram analisadas, a nitidez já não era das melhores, muitas estavam borradas e infelizmente não poderiam ser identificadas.

Ao chegar às últimas imagens, que estavam boas, mas que em sua maioria revelavam apenas registros do prédio do Hospital, Faila teve um choque ao se deparar com a fotografia de Kur em frente ao espelho: com uma mão segurava a câmera e com a outra parecia abrir um buraco em seu peito. Apesar de a foto ser em preto e branco era possível notar o sangue em sua camisa branca.

Faila sentiu-se mal naquele momento e retirou-se do escritório, não acreditava que Kur teria se suicidado, era terrível imaginar a dor e os motivos que o levaram a fazer isso. 

Após alguns minutos e vários copos de água, Faila retorna ao seu escritório e busca incessantemente pela foto que parecia ter sido tragada, misteriosamente desapareceu em meio a tantas outras folhas que permaneciam sobre a mesa.

Faila intrigou-se e resolveu dormir, pois ainda estava em choque com o que viu e principalmente com o mistério que acabara de desvendar. 

Em seu quarto sentiu um estranho cheiro de fumaça, repentinamente um forte vento soprou do lado externo da casa, fazendo com que a janela emanasse fortes ruídos. A ventania logo foi possuindo a residência pelo lado de dentro até que um estrondo veio do escritório.

Faila assustada, cautelosamente caminhou para ver o que tinha acontecido e se deparou com o quadro de Kur, o da boneca, caído no chão.

Por alguns rápidos instantes seu olhar fixou-se na pintura, algo a chamava para dentro daquela estranha obra, já sentada no chão ficou paralisada com os olhos trêmulos, suas pupilas lentamente foram se dilatando, suas mãos incharam rapidamente, sentia-se sufocada, desesperada tentava se levantar, mas acabou caindo no chão do escritório. 

Tentava emitir um grito de socorro, mas nada conseguiu fazer a não ser agonizar já sem reação alguma a única coisa que pôde ver foi um estranho vulto vagando pelo corredor, aparentemente uma menina. Deste ponto em diante nada mais viu a não ser a sombra da morte encobrindo sua visão.

Faila deixou registros do que estava pesquisando, sobre a sua escrivaninha duas folhas escritas à mão permaneceram intactas.

Uma semana depois o corpo de Faila foi encontrado em avançado estágio de decomposição. Peritos constataram morte por infarto, algo deveria ter provocado esse incidente já que Faila sempre foi extremamente sadia e nunca sofreu de mal algum de saúde.

Em sua residência foi encontrada uma estranha boneca, aparentemente muito antiga, mas pouca atenção foi dada a este objeto.

A autópsia de Faila assustou alguns médicos legistas, que encontraram seu coração muito escuro bem diferente de um infarto normal, ele parecia estar carbonizado.

Mais lendas caíram sobre o fantasma de Katrin Malen, a conto da foto proibida se espalhou novamente, nada continha os comentários da população da Indonésia, muito menos a velocidade com que as informações eram passadas.

Anos se passaram, as fotos da câmera de Kur foram recolhidas por um museu local, os relatos que Faila escreveu se tornaram segredo guardado a sete chaves junto com o quadro da boneca e a boneca encontrada em sua casa.

Sua morte foi dada como natural e ninguém mais tocou no assunto.


Nova York, Estados Unidos 1995

Henry um jovem estudante das artes ocultas há tempos tinha conhecimento da Lenda de Katrin Malen e muito planejava sua ida para a Indonésia, a fim de resgatar os vestígios reais da existência da menina bem como as famosas fotos que ficaram trancadas em um antigo baú.

A boneca encontrada, por ser muito antiga ficou exposta no museu como peça de apreciação e desejo de colecionadores, por ser única e praticamente não existir qualquer outro exemplar como aquele no mundo.

De tanto desejar Henry juntou um alto capital com sua organização do Ocultismo e conseguiu todos os objetos que desejava inclusive a boneca, após meses de negociação o museu concordou em vender tudo, pois estava em estado lamentável e necessitava de verba para conseguir se manter por mais algum tempo e nesse período ninguém mais acreditava na lenda Katrin Malen.

As fotos, a boneca e os relatos de Faila chegaram a Henry quase um ano após seu pedido ter sido realizado.

As fotos já não mostravam mais nada, além de borrões escuros e manchas estragadas pelo tempo e má conservação, apenas a de um corredor vazio focalizando uma porta estava em bom estado.

A boneca encontrada na casa de Faila permanecia da mesma maneira, trajando um vestido branco, cabelos longos e louros de tamanho médio e seu corpo era composto por um pano macio, o enchimento parecia não ser dos melhor e já não exalava um bom odor devido a idade.

Vasculhando entre as linhas daqueles papéis que um dia serviram de anotações a Faila, Henry descobriu o que uma das fotos mostrava. Faila descreveu com riqueza de detalhes a foto em que Kur se suicidava.

Faila explicou como adquiriu os objetos estranhos e um dos parágrafos citava que a boneca estava ao lado de Kur no dia de sua morte e que havia sido recolhida junto com sua câmera permanecendo guardada na casa de Telman e posteriormente comprada por Faila no leilão.

Henry era perito em artes gráficas na época e desejava coletar o material, realizar seus estudos e posteriormente concretizar suas conclusões com imagens e ilustrações de todos os acontecimentos desde o grande incêndio do hospital de Santem.

Com o passar dos dias Henry ficou fanático pelas buscas, queria de todas as formas encontrar uma resposta para a morte de Faila e principalmente desvendar o que poderia ter levado a morte de Faila.

Um mês se passou, Henry afastou-se de seu grupo de ocultismo e se dedicou em tempo integral a buscar informações sobre o passado de Katrin e todos aqueles que tentaram descobrir sua verdadeira história.

Henry morava sozinho, seu pai e mãe eram falecidos, a casa dele era repleta de artefatos religiosos e símbolos místicos o que tornavam o ambiente assustador para algumas pessoas.

O ano já era de 1996, Henry pouco saia de casa e dedicava todo seu tempo livre ao ocultismo, já havia abandonado a pesquisa sobre Katrin Malen até que em certo dia descobriu em velho livro, um ritual utilizado para invocar espíritos perturbados. Era algo diferente de tudo que ele já conhecia, talvez fosse aquele ritual a resposta para todas suas dúvidas.

Assim Henry tomou a decisão de realizá-lo na noite de sete de janeiro.

O foco de Henry era invocar o espírito de Katrin Malen, e tentar obter as respostas que tanto desejava. Para isto acontecer o livro dizia que sangue próprio deveria ser oferecido ao espírito em questão.

Henry seguiu a risca tudo que foi pedido, dezenas de velas iluminavam o ambiente, sobre a mesa da cozinha permaneciam alguns objetos religiosos, umas folhas e uma caneta.

As horas foram passando e Henry não conseguia invocar a tão esperada presença de Katrin, até que em certo momento, sua mão involuntariamente escreveu uma mensagem no papel que dizia: “Regresso por aquele que faz o que um dia fizemos”. Sem entender bem Henry encerrou o ritual, mas permaneceu intrigado com a mensagem que escreveu.

Naquela mesma noite, estranhos ruídos foram escutados na cozinha enquanto Henry dormia. 

O dia amanheceu nebuloso, ao caminhar em direção a cozinha Henry apavorou-se vendo que todos os armários de sua cozinha estavam abertos, era algo que nunca tinha acontecido antes, muito pensativo vagarosamente fechou cada porta, imaginando o que poderia ter causado aquilo.

Dias foram se passando, o comportamento e Henry parecia mais estranho, cada vez se fechando mais para o mundo. Seus amigos já não correspondiam, sempre eram retribuídos com agressividade, mesmo aqueles que contribuíram para a compra dos objetos da Indonésia.

Vinte e cinco dias transcorreram da mesma forma, diversas vezes Henry foi surpreendido por estranhos acontecimentos em sua residência. Suas criações digitais já não eram mais as mesmas, apesar de passar horas em frente a um computador, pouco criava.

Em uma noite muito quente, Henry tentava de todas as maneiras criar algo único em seu computador, mas os latidos incessantes de seu cachorro e único companheiro o incomodavam demasiadamente. 

Instantes de muita fúria foram se sobrepondo, até que em determinado momento Henry parecia diferente, algo o deixava trêmulo. Vagarosamente levantou-se de sua mesa, as gotículas de suor já eram visíveis em seu rosto. Caminhou até a parte externa onde seu cachorro continuava a latir.

As veias do rosto de Henry, um rapaz loiro com pele avermelhada, estavam saltadas e seu olhar era de fúria para seu animal. 

Ao seu lado direito havia uma caixa de madeira com uma barra de ferro acima, Henry agarrou essa barra com muita força e apontou em direção do animal que continuava a latir, mas desta vez olhando para seu dono.

Henry nada notou, mas no momento em que observava seu cachorro um estranho vulto de estatura baixa, roupas pretas e um olhar profundo o observava de dentro da residência.

Os ruídos do cachorro eram de medo e raiva, Henry ergueu a barra com toda a sua fúria e acertou a cabeça do animal num golpe fatal sem ao menos dar-lhe a chance de reagir.

Ainda não satisfeito Henry, demonstrou sua raiva cavando um buraco no peito do cachorro, colocando a mostra seu coração que jorrava sangue por todo quintal.

Após assassinar seu tão querido companheiro, Henry com as mãos repletas de sangue, soltou a barra e caminhou normalmente para seu computador sem notar a estranha presença o observando.

Em frente ao computador mesmo sem lavar as mãos, Henry manchava todo o mouse e escrivaninha. Um estranho desejo tomou conta de seu ser. Vasculhou suas gavetas até que encontrou a foto do corredor do Hospital de Santem, a única restante da série de imagens que Kur registrou. Mesmo com as mãos sujas conseguiu digitalizar aquela imagem.

Seu olhar era fixo na tela do computador, enquanto isso atrás dele a presença não notada que vagava por sua residência nada mais era do que o espírito da própria Katrin Malen.

Henry estava sob o poder de Katrin, sem notar a menina o observando ele começou a criar montagens em seu computador, sobrepondo diversas imagens sobre a foto corredor, inconscientemente Henry recriou com perfeição de detalhes a imagem do espectro de Katrin Malen, mas algo ainda faltava e com certeza era a boneca.

Em outra de suas bagunçadas gavetas entre os badulaques místicos a boneca vinda do museu da Indonésia foi retratada nas mãos de Katrin como se fosse enforcada por uma fina linha.

A obra digital ficou pavorosa, mas Henry estava certo no que fez. Uma voz baixa, pausadamente repetia para que aquela imagem fosse propagada, mais pessoas deveriam tomar conhecimento da existência de Katrin Malen.

Henry ainda permanecia com a boneca em uma das mãos enquanto disparava a tenebrosa fotomontagem pela então recente criada internet.

Katrin continuava observando as atitudes de Henry e quando o último clique foi dado, as mãos geladas, brancas e com aparência decomposta do espírito da menina morta repousaram sobre os ombros de Henry.

Henry sentiu suas mãos incharem, uma estranha falta de ar tomava conta de seu corpo sem saber ao certo o que estava acontecendo, viu sua visão cair na penumbra, seu coração acelerar e em minutos nada mais sentiu, faleceu em sua cadeira, caindo posteriormente com a boneca segurada firmemente em sua mão esquerda.

Katrin se afastou lentamente e na escuridão do corredor da casa de Henry, desapareceu com um sorriso fúnebre e sarcástico em sua face macabra como quem comemorava a conclusão de uma difícil missão.

Dias depois a casa de Henry é arrombada por policiais que vieram a pedido de vizinhos que sentiam um forte mau cheiro e notaram a ausência do jovem.

A cena era chocante e nada diferente da morte Faila, a boneca foi recolhida por uma das policiais que ferozmente a rasgou e dentro do brinquedo escondia-se vestígios de tecido humano apodrecido por décadas, mas tudo indicaria que aquele seria um coração.

Exames posteriores indicaram que o coração era de Kur, desaparecido e considerado um mistério até os dias atuais. Uma dúvida no ar ficou: - Como aquele órgão foi depositado dentro do brinquedo? Havia mais alguém naquele hospital além de Kur.

Investigadores buscavam mais vestígios dentro da boneca quando um pequeno diário envelhecido caiu na mesa.

Mary uma linda jovem policial pegou o diário e na sua capa o nome da proprietária era bem evidente: “Katrin Malen”.

A história talvez acabe por aqui, não se sabe o que aconteceu depois do diário ter sido encontrado, mas a única coisa que se sabe é que seu espírito permanece imortalizado em sua única foto, Katrin ainda vive na mente das pessoas que a observam por muito tempo.

E aqui está a tão famosa foto daquela que dizem ser Katrin Malen. Se a história é verdadeira ou não, se a foto é real ou montada, não se sabe. Mas veja-a por sua própria conta e risco.








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